19.10.2015
Arte Contemporânea na Turquia

AUREA VIEIRA escreveu o seguinte artigo após sua viagem à Turquia a convite do Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT).


Data da viagem: 15 a 25 de agosto de 2014

Conhecer a Turquia e todas as suas camadas de conhecimentos, as religiões sobrepostas e suas interpretações contemporâneas sobre tantos anos de história complexa foi uma experiência de turismo profundo, daqueles que deixam marcas para sempre, que mudam perspectivas de mundo e que refletem mais de nós mesmos - pelo exercício de alteridade permanente que se propõe ali. Não há quem não se perca naquela imensidão de minaretes a embaralhar seus cânticos com música e poesia, de luzes refletindo-se naquela palheta infinda de azuis, de sabores inigualáveis e que desafiam o paladar entre o marcante e o tenro. 

Na arte contemporânea da Turquia que se pode ver em IKSV, Salt, Galeria IST e no impactante Istambul Modern, encontramos muitas vezes um diálogo com a tradição que mescla o respeito e a ironia, o direcionamento de uma conduta moral sugerida e a subversão natural da arte. Em duas trompas musicais unidas por suas campânulas (obra French Kiss do coletivo Metal KLINIK), vê-se refletido um desenho que nos remete à lânguida escrita otomana. Dos desenhos espelhados de Inci Eviner percebe-se uma ideia de figurativo que flerta com o teatro de sombras e, por isso, é impossível não se prender a um movimento natural que as silhuetas propõem, tecendo uma narrativa. Do piano elevado por três balões de ar de Serkan Özkaya, é possível se perguntar uma miríade de coisas, como "que música este piano toca para si para levitar?", "qual o pianista que nunca quis fazer com que seu instrumento subisse aos céus como um redentor objeto sagrado?", "não é piano o mesmo que dizer 'devagar' ou 'leve' em italiano?"... A descoberta de algumas obras inéditas, convergindo com a revelação de um novo mundo cultural ao mesmo tempo, criaram uma emoção complexa sobre a beleza de viver nesse tempo: sobrepondo culturas e histórias, se deixando questionar pelas obras atuais e pelos ritos antigos, trazendo, enfim, uma indefinível sensação de respeito e de que há muito ainda a decifrar (e a se entregar) quando se trata de homens e suas criações...

As Considerações da Gerente Relações Internacionais do Sesc-Sp Sra. Aurea Vieira