28.10.2015
Escritor turco Orhan Pamuk teme guerra civil na Turquia

O prêmio Nobel de Literatura de 2006, o escritor turco Orhan Pamuk, criticou duramente o presidente de seu país, Recep Tayyip Erdogan, a quem chamou de autoritário, e reconheceu que teme uma guerra civil na Turquia.


"Tenho o coração partido", confessou o escritor em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica ao comentar o sangrento atentado de sábado em Ancara, que provocou a morte de ao menos 97 pessoas.

O autor de "Istambul" e "Neve", que indaga sobre a alma melancólica de sua terra natal, sente que "o medo" reina em seu país.

"Vejo o temor nos rostos e nos corações das pessoas, este é o sentimento que governa o país", disse.

O reconhecido escritor se define um democrático de ideias liberais e acusa o presidente Erdogan de ter gerado por cálculo pessoal e ambição de poder as tensões atuais.

"A derrota eleitoral nas eleições de junho enfureceu Erdogan" porque não conseguiu convencer os curdos "de seu projeto de República presidencial", explicou Pamuk, que se encontra em Nova York.

"O governo e o exército decidiram começar uma guerra contra o movimento curdo", sustenta.

"Toda a nação entende agora o cálculo de Erdogan: no início não queria ser parte da coalizão internacional que luta contra o Califado islâmico. Depois aceitou o que os americanos pediam. Mas ao mesmo tempo se aliou ao Califado para bombardear os curdos", resumiu.

A oposição pró-curda acusa o presidente Erdogan de ser responsável pelos atentados em Ancara, o mais grave na história da Turquia, ocorrido três semanas antes das eleições parlamentares.

"Todos os turcos liberais, democratas, laicos, estamos com os curdos e simpatizamos com eles, porque esse povo quer a paz", afirmou Pamuk.

"Um país pacífico como a Turquia de repente se encontra em guerra, tanto contra o Califado islâmico quanto contra o PKK", os rebeldes curdos turcos, afirma.

A oposição acusa Erdogan de alimentar o conflito curdo com a esperança de atrair o eleitorado nacionalista.

Nas últimas eleições parlamentares de 7 de junho, o AKP, o partido governante, perdeu a maioria absoluta que possuía desde 2002, minando as esperanças do presidente Erdogan de modificar a Constituição para fortalecer seu poder.

Fonte: diariodepernambuco.com.br/