"A politização do islamismo é sempre perigosa” - Entrevista da jornalista brasileira Fabiola Ortiz dos Santos com Alp Aslandogan, presidente da Alliance for Shared Values
  13.12.2015
"A politização do islamismo é sempre perigosa” - Entrevista da jornalista brasileira Fabiola Ortiz dos Santos com Alp Aslandogan, presidente da Alliance for Shared Values

Fabiola Ortiz dos Santos
Nova Iorque, Estados Unidos
Publicado na Agência Lusa em 01/12/2015
Número de Documento: 20047446

Todos os elementos de um período pré-genocida estão reunidos na Turquia nos dias atuais, afirmou à Lusa um dos porta-vozes do movimento Hizmet (serviço), do clérigo Fethullah Gülen, opositor do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

Alp Aslandogan, um dos porta-vozes de Gülen - fundador do Hizmet, movimento humanista de orientação islâmica autoexilado desde 1999 no estado norte-americano da Pensilvânia - citou o medo de realizar atividades coletivas, o controlo dos media e uso do poder do governo para intimidar a população.

"Hoje as liberdades civis estão totalmente ameaçadas. De forma repentina, o governo foi no sentido contrário dos padrões democráticos. As pessoas já não podem nada coletivamente, há vigilância e intimidação. Se alguém for visto com um diário da oposição nas mãos, pode ser atacado e espancado", disse.

Fethullah Gülen, septuagenário, defende o diálogo inter-religioso, a liberdade de imprensa, de expressão e valores universais, mas é acusado pelo governo de Erdogan de administrar um Estado paralelo e de conspiração política.

Ex-aliado de Erdogan o clérigo tornou-se o seu principal rival. O presidente turco acusa Gülen de agir como "um Estado dentro do Estado" e tentar desestabilizar o governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) através dos seus simpatizantes no poder judicial, na polícia e outras instituições.

Para Aslandogan, tudo mudou a partir da terceira eleição de Erdogan como primeiro-ministro em 2011. Em agosto de 2014 foi eleito como Presidente da Turquia.

"Da democracia para o autoritarismo crescente, Erdogan começou a promover a ideia de uma presidência executiva que lhe garantiria imensos poderes e sem prestação de contas. Gülen não apoiou mais", reforçou.

Interrogado sobre como Fethullah Gülen descreveria a atual administração do presidente turco, o assessor e porta-voz, diz que estaria a meio de caminho entre o autoritarismo e uma ditadura aberta.

"A politização do islamismo é sempre perigosa. O uso da religião para propósitos políticos será sempre prejudicial. A religião serve para os indivíduos se tornarem virtuosos e, juntos em sociedade, expressarem os seus valores e virtudes para se viver numa sociedade mais livre, justa e democrática", defendeu Aslandogan.

O uso do islamismo como uma ideologia política para criar um regime e capturar o poder "é o que distingue fundamentalmente o pensamento do atual presidente turco dos pensamentos de Gulen", diz o porta-voz.

Para Aslandogan, tudo dependerá do "grau de maturidade" da sociedade turca e o quanto tolerará atitudes autoritárias do governo.

"Estamos dececionados, esperávamos uma maior reação pública de oposição a esta situação. Chegará um ponto em que não haverá mais silêncio" conclui.