CCBT organiza seminário internacional na Câmara Municipal de São Paulo: Países Emergentes e Seus Desafios Sociais, Exemplos de Brasil e Turquia
  29.06.2015
CCBT organiza seminário internacional na Câmara Municipal de São Paulo: Países Emergentes e Seus Desafios Sociais, Exemplos de Brasil e Turquia

Centro Cultural Brasil-Turquia organizou seminário internacional, em parceria com Câmara Municipal de São Paulo e com professores participantes da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e Instituto Istanbul. O tema foi “Países emergentes e seus desafios sociais: exemplos de Brasil e Turquia”, no dia 28 de maio, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.

Este evento foi uma das ações apoiadas pelo CCBT, entre várias atividades realizadas pelas comemorações do Dia da Turquia, teve como objetivo promover uma discussão sobre assuntos pertinentes ao cenário atual dos dois países e estreitar os laços.

Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), ex-ministro e embaixador, autor de vários livros, fez abertura do seminário, fazendo uma comparação do cenário atual e desenvolvimento similar dos dois países nas últimas décadas.

Ihsan Yilmaz, presidente do Instituto Istambul, um think tank com base na Turquia, professor de Sociologia Política e diretor do Programa de PhD em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Fatih, colunista dos jornais diários Today’s Zaman e Meydan, conversou sobre situação crítica da democracia e liberdade de imprensa na Turquia.

Guilherme Casarões, professor de Relações Internacionais na Fundação Getulio Vargas, nas Faculdades Integradas Rio Branco e na ESPM, doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Campinas e especialista em História e Culturas Políticas pela Universidade Federal de Minas Gerais, conversou sobre suas experiências e impressões nas viagens à Turquia e os desafios dos dois países.

Peter Robert Demant, historiador com PhD pela Universidade de Amsterdam e livre-docente pela Universidade de São Paulo, Brasil, especializado no mundo muçulmano e Oriente-médio foi o mediador do seminário.

Selcuk Gultasli,representante do grupo do jornal Zaman em Bruxelas, iria participar do evento, mas não pôde devido à grande pressão do Governo Turco sobre jornal que ele representa em Bruxelas. A carta que ele enviou ao seminário foi lida pelo Mustafa Goktepe, presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia. Essa carta está anexada no final desta página.

A SOCIEDADE CIVIL ESTÁ AMEAÇADA NA TURQUIA

O autor de diversos livros, o sociólogo Ihsan Yilmaz, disse que a mudança de poder virou de linha, da tutela militar à autoridade administrativa civil nos últimos anos na Turquia. Como prova a isso, o Yilmaz apontou que, os bancos privados foram desapossados, as pessoas foram agrupadas e a sociedade polarizada, os comerciantes que não apoiam o Governo turco foram multados e as organizações humanitárias foram tradatas como organizações terroristas. Ele expressou resumidamente o último ponto que a mídia livre chegou com as seguintes frases: “O presidente da emissora de televisão, Samanyolu, onde eu apresento um programa, Hidayet Karaca, está preso há meses por causa de algumas frases num seriado que foi transmitido num dos canais da emissora há 5 anos; e o editor do jornal Zaman, Ekrem Dumanli, para qual eu escrevo colunas, está sendo julgando como suspeito de chefe de organização terrorista! Eu também estou sendo julgado por ter feito discussões críticas sobre o Governo turco.

Na presença de muitas autoridades e representantes oficiais, Prof. Yilmaz recebeu a pergunta sobre o porquê de a Turquia ficou sozinha na política externa. Ele respondeu mostrando alguns exemplos: o Governo atual representou políticas erradas e tendenciosas no Oriente Médio, incluindo o Chipre Norte. Ficou brigando com muitos dos países vizinhos por diversos motivos e se afastou de propostas democráticas, aumentando as perseguições e restrições.

OS COMINHOS SE SEPARARAM COM A TURQUIA APÓS A PRIMAVERA ÁRABE

O Guilherme Casarões, docente na Fundação Getúlio Vargas, um dos institutos mais importantes do Brasil, conversou sobre o processo da democracia de ambos os países, com as perspectivas históricas.

“Eu fui à região para pesquisar sobre o problema entre Palestina e Israel em 2011 e graças a essa pesquisa, tive chance de conhecer a Turquia de perto. Descobri surpreendentemente algumas semelhanças entre os dais países. Desde suas histórias de fundação, do processo de industrialização, até os golpes militares, os períodos de passagem para economia liberal e os perfis de líderes que orientaram os destinos de ambos os países. Os dois países tinham abordagens semelhantes sobre Oriente Médio, porém, hoje especialmente após a primavera árabe, as perspectivas da Turquia e do Brasil se diferenciaram.” disse.

Casarões lembrou que, no começo do governo do AKP, a Turquia conseguiu cumprir a proposta de política de “zero problema” com vizinhos, mas isso não continuou por causa das ambições para ser líder na região. O Brasil apoiou à organização do Mercosul e garantiu sua integração na região e isso pode ser bom exemplo para Turquia seguir, esforçando-se mais para fazer parte da União Europeia.

Casarões comparou os protestos que ocorreram em 2013 no Parque Gezi em Istambul, e os protestos que ocorreram no Brasil no mesmo período. A consciência de democracia está estabelecida no Brasil, por isso a Dilma Rousseff não arriscou uma posição oposta aos protestos. O académico disse que ficou chocado quando ouviu a frase citada pelo então primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, “mal consigo segurar 50 por cento do povo em casa”, ameaçando os que protestavam contra postura autoritária dele. Ele ainda disse que o fato mais importante no desenvolvimento da consciência de democracia no seu país, o Brasil, é a total independência dos poderes executivo, judiciário e legislativo.

A CARTA DO JORNALISTA SELÇUK GULTASLI AO SEMINÁRIO

Essa carta enviada pelo Selçuk Gültasli, representante do Jornal Zaman em Bruxelas, para o seminário, em 28 de maio de 2015. Ele iria participar do seminário pessoalmente, mas não pôde vir por razões que explica na carta. 

Prezados presentes,

Em primeiro lugar, gostaria de apresentar minhas desculpas por não poder estar entre vocês hoje, apesar da minha vontade e promessa. Eu tenho certeza de que vocês vão entender a razão da minha ausência, com essa mensagem onde eu tento explicar a situação na Turquia para os jornalistas.

Algumas semanas atrás, meu chefe, Ekrem Dumanlı, CEO do Jornal Zaman, me convidou para Istambul, para trocar ideias. Como ele está sendo julgado por liderar "uma organização terrorista armada(!)", o juiz proibiu-o de viajar para o exterior. Em Istambul, foi-me dito que o governo poderia tomar controle do ZAMAN, o jornal que eu represento em Bruxelas, e de outros meios de comunicação, críticos na corrida para as eleições no 7 de junho deste ano.

Essa possibilidade me parecia uma loucura e me opôs a essa ideia tão insana. E também pensei que o motivo do convite para Istambul não era plausível.

No dia seguinte eu voltei para Bruxelas. Para minha surpresa e choque, eu li na mídia pró-governo que um procurador em Ankara, chamado Serdar Coskun, já havia solicitado ao Ministro de Comunicações para parar todos os serviços do Estado à mídia crítica ao Governo, praticamente pedindo para amordaçar a mídia livre. Até agora, nem o procurador nem qualquer membro do poder judicial negou relatos de que o governo quer que os meios de comunicação críticos sejam amordaçados.

Nas últimas semanas, o presidente Erdogan também entrou numa briga contra um outro grupo de notícias independente, o Grupo Dogan. Ele acusa grupo Dogan com todos os tipos de más intenções. Um advogado já pediu o Ministério Público para prender o Editor-in-Chief do Hurriyet, jornal diário do Grupo Dogan.

Dois dias atrás, o jornal New York Times publicou um aviso editorial aos governos democráticos do Ocidente para serem vigilantes contra os esforços do Governo turco para silenciar os grupos de mídia Dogan e Zaman, as duas únicas remanescentes vozes independentes na Turquia. Presidente Erdogan não perdeu tempo para começar uma luta contra o jornal New York Times, pedindo-lhes para se comportarem e calarem!

Meu outro chefe, Hidayet Karaca, presidente do grupo de emissoras de Samanyolu TV, foi preso em 14 de dezembro de 2014, e ele ainda está na prisão, por "liderar uma organização terrorista armada(!)". Ele é acusado de instruir a polícia turca para fazer operações através de uma novela transmitida há alguns anos em um dos canais do grupo que ele gerencia! Isto pode soar super-surreal para vocês, mas é um caso real da Turquia.

Repórteres Sem Fronteiras classificou a Turquia 149a (centésima, quadragésima e nona) colocada entre 180 países, em termos de liberdade de imprensa.

Freedom House classificou imprensa turca como "não livre", pelo segundo ano consecutivo.

Hoje, na Turquia, quase 70 por cento da mídia é controlada pelo governo. Quando Erdogan fala, mais de 15 canais transmitem seu discurso ao vivo.

Este é o estado dos meios de comunicação na Turquia. A razão de que não estar aí entre vocês hoje, é a possibilidade de que o meu jornal poderá ser tomado pelo Governo. Eu precisava estar perto de Istambul, se uma coisa tão terrível acontecer. Por favor, aceitem minhas sinceras desculpas.

Muito obrigado pela compreensão.”

Selçuk Gültasli, Representante do Jornal Zaman


Link para Notícia do Seminário na Página da Câmara Municipal de São Paulo: www.camara.sp.gov.br


Link para Anúncio do Seminário: www.brasilturquia.com.br


Fotos do Seminário: