Condenamos as intimidações do governo turco à imprensa na Turquia!
No dia 1º de setembro de 2015, a polícia turca fez uma operação de busca na sede do grupo Koza Ipek, empresa proprietária das estações de TV Bugün e Kanal Turk e dos jornais Bugün e Millet. A operação ocorreu no mesmo dia em que o jornal Bugün e a emissora de TV Kanal Turk publicaram fotos de uma suposta remessa clandestina de suprimentos feita pelo governo turco destinada a militantes da facção terrorista EI (Estado Islâmico) na Síria. O material seria usado para fabricação de armas. Link da notícia que contém fotos: http://www.bugun.com.tr/gundem/sok-fotograflar-haberi/1810549 “Eu não tenho nenhum centavo ilegal nos meus negócios, eu sempre vivi corretamente, sequer uma multa de trânsito eu tive na minha vida” disse Akin Ipek, presidente do grupo Koza Ipek, após sua residência também ter sido vasculhada pela polícia. Ipek acrescentou categoricamente: “Se os inspetores e a polícia conseguirem encontrar um centavo ilícito sequer, eu estou preparado para entregar todas as minhas empresas a eles”. O grupo de mídia Bugün era uma das poucas publicações que ainda se esmeravam em fazer críticas ao governo autoritário turco. Infelizmente, espera-se que este paralisará as atividades do grupo jornalístico antes das eleições previstas para novembro como manobra eleitoral. A ação inconstitucional – já que não há justificativa jurídica para essa invasão policial – recebeu críticas do mundo todo. A União Europeia disse estar preocupada não somente pelas operações nas mais de vinte empresas do grupo Koza Ipek, mas também pela detenção de dois jornalistas do VICE News que cobriam os acontecimentos no sudeste da Turquia. “Qualquer país que negocia a adesão à UE deve garantir os direitos humanos, o respeito pelos direitos humanos, incluindo a liberdade de expressão”, disse Maja Kocijancic, porta-voz da União Europeia para assuntos internacionais. Rebecca Harms, presidente do Grupo dos Verdes no Parlamento Europeu (PE), pediu que o governo turco parasse de tentar subjugar crítica da mídia. Em declarações ao jornal Zaman, Harms disse: “Eu peço ao governo turco que pare de subjugar a crítica da mídia. A liberdade de imprensa é um valor fundamental das democracias. A UE deve deixar bem claro que é inaceitável, em um processo eleitoral democrático, silenciar a mídia crítica. Durante a minha recente visita à Turquia, em julho (2015), percebi que todos os meios de oposição compartilham um profundo medo desta estratégia do Sr. Erdoğan para silenciar a mídia crítica. Entendo que o Sr. Erdogan não consiga aceitar a derrota (de seu partido) nas últimas eleições parlamentares e tente agora pressionar (a mídia) para obter um melhor resultado nas próximas eleições (novembro de 2015), porém sua estratégia é tão terrível que espero que a sociedade democrática na Turquia seja mais forte do que ela e a democracia prevaleça”. O comissário do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, Nils Muiznieks, disse em uma declaração escrita que está “muito preocupado com relatos de ataques realizados pela polícia turca a várias redações e com a prisão de dois jornalistas da VICE na Turquia”. Muiznieks disse: “Esses atos intimidadores devem parar imediatamente e as autoridades turcas devem tomar medidas resolutas para assegurar uma maior liberdade aos meios de comunicação”. Sajjad Karim, membro do Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus do Parlamento Europeu, falou ao jornal Zaman e categorizou as operações contra mídia livre na Turquia como “ataques às liberdades fundamentais”. Jonathan Fryer, diretor do Grupo Internacional Britânico Liberal, apontou para o risco de essas ações policiais representarem um risco à posição internacional da Turquia. “As últimas intervenções policiais estão em violação direta às normas do Conselho da Europa e são um risco grande à reputação da Turquia internacionalmente”, disse ele. Cem Özdemir, co-presidente do Partido Verde na Alemanha, criticou a iniciativa para reprimir dissidentes da mídia em uma entrevista ao jornal Zaman e disse que a operação contra Koza Ipek parece ser “apenas o começo”. Özdemir acrescentou: “Uma Turquia onde tais operações contra a mídia são conduzidas não pode sequer imaginar um lugar na UE. Se todos os jornalistas, dentro e fora da Turquia, não se unirem, o que começou hoje com grupo Koza Ipek amanhã será feito contra outro e continuará até não haver mais mídia independente”. “Não podemos falar de democracia em um país onde a mídia está sendo silenciada”, disse Kemal Kilicdaroglu, líder do principal partido de oposição. Após revelações de esquemas de corrupção, em 17 e 25 de dezembro de 2013, envolvendo quatro ministros do governo e o Presidente Erdoğan, à época primeiro-ministro, o governo turco tem pressionado sistematicamente a imprensa crítica na tentativa de omitir as investigações, além disso o governo tem intimidado empresas que não se entregaram ao sistema de corrupção ou à opressão e continuaram a publicar propagandas na mídia crítica ao governo. Hoje, cerca de 80% da mídia é controlada pelo governo na Turquia e utilizada como máquina de propaganda do partido governante. O Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) declara estar preocupado com o caminho pelo qual a Turquia tem sido conduzida, com as ações cada dia mais autoritárias do governo e com a perseguição contra a imprensa, a liberdade de expressão e os direitos humanos, pilares da democracia. Portanto, condenamos veementemente a ação do governo turco contra o grupo de mídia Bugün. Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) Fontes das informações: |