Confusão faz repórter turco viajar 13.240km para entrevistar Alex
  11.12.2014
Confusão faz repórter turco viajar 13.240km para entrevistar Alex

Atendente de aeroporto em Istambul troca destino de jornalista, que ao invés de ir para Curitiba,vai parar em Cruzeiro do Sul, no Acre,

e ele passa por verdadeira aventura no Brasil Süleyman Arat, repórter do “Hürriyet News”, queria ser o primeiro a entrevistar Alex após sua saída do Fenerbahçe.

Para isso, tinha que chegar ao Brasil antes do próprio. Mas um funcionário do aeroporto de Istambul o colocou em uma roubada. Ele achava que o apoiador iria para o Cruzeiro, como as notícias da época diziam. E pior, achava que não tratava-se apenas de um clube, mas também da cidade da Raposa. E quando viu que o destino do jogador era Curitiba, confundiu-se nas abreviaturas de aeroportos (CRU e CUR) e o mandou para Cruzeiro do Sul. No Acre.

Para chegar lá, ele saiu de Istambul, foi até Paris, depois para São Paulo, e fez o seguinte trajeto: Fortaleza (CE) - Belém (PA) - Manaus (AM) - Porto Velho (RO) - Rio Branco (AC) - Cruzeiro do Sul (AC). E mesmo assim, de acordo com os seus cálculos, ele ainda chegaria seis horas antes de Alex, que passaria apenas em Dakar (capital do Senegal) e iria para Curitiba em voo fretado. Não demorou a reparar que algo não estava indo bem:

– Ainda do ar, vi que era uma verdadeira floresta, não parecia que seria uma cidade que Alex viveria, fiquei em dúvida.

Mesmo com dificuldade de comunicação – poucos falavam inglês – Süleyman começou a perguntar por Alex. Só um homem com cerca de 50 anos, com a camisa do Flamengo, conhecia o jogador, mas tinha certeza que aquele não era o destino de uma estrela.

Eles foram para a casa do administrador do aeroporto. Com a confusão desfeita, o turco descobriu que estava a mais de 4 mil quilômetros do destino certo, e vinha apenas um pensamento:

– Eu estava tão irritado... Eu perdi o voo do Alex por causa da falha do atendente do aeroporto em Istambul, estava longe de casa, na Amazônia, onde reinam as cobras e vivem as sucuris.

Süleyman ligou para o seu jornal, recebeu apoio do chefe, e até teve o aval para voltar. O que lhe deu ainda mais vontade de conseguir a entrevista. A sorte foi que o flamenguista (que ele não lembra o nome) seria apenas o primeiro homem de bom coração que ele iria encontrar no caminho até o final feliz.

Amigos no caminho

O flamenguista o apresentou a Airton, que o levou no dia seguinte para Rio Branco. E ainda houve tempo para um churrasco na casa do peruano Paulo Banir. Na noite seguinte, Arat já estava em Curitiba, encontrou mais um brasileiro que o ajudou (deu-lhe dinheiro), e na outra manhã ele estaria pronto para a nova parte da saga: encontrar Alex. E fez o caminho mais próximo.

– Eu entrei em contato com o seu tradutor, Samet Güzel, e disse que a entrevista era muito importante para mim, e que seria um desastre, mas ele disse que Alex não aceitaria.

Enfim, Alex

Até que depois de quatro dias de vigília perto da casa de Alex, um final feliz e inesperado para o turco. Quando foi a um shopping para fazer câmbio e jantar, encontrou por acaso o jogador, e foi só alegria.

– Dei um abraço na mesma hora, e ele não conseguiu escapar mais. Depois de 45 minutos de uma conversa amigável, tirei algumas fotos e, enfim, fiz a entrevista, que foi muito importante para mim e para o jornal – comemora o jornalista que, de quebra, ainda foi ver um jogo do Coxa, e conseguiu entrevistas com Deivid e Lincoln, que também atuaram na Turquia.

E para piorar tudo, a sigla do aeroporto de Cruzeiro do Sul nem é CRU, é CRZ. Por causa disso, ele fez o trajeto de 13.240 quilômetros no total.

Quem conta um conto...

Toda esta história foi descoberta em entrevista que Felipe Ximenes, superintendente de futebol do Coritiba, concedeu ao LANCENET! há menos de um mês. Como é normal em qualquer conto deste tipo, as versões ganham alguns equívocos, que foram corrigidos pelo próprio Suleyman Arat. No início, o repórter teria andado até de pau de arara e sofrido pressão de seu chefe, de que se não conseguisse a entrevista, poderia ser demitido.

- Eu tenho 33 anos de casa, já fiz grandes trabalhos, e não seria essa falha que iria custar meu emprego. Pelo contrário, tive apoio o tempo todo - conta o repórter.

Mas muito mais do que a saga de um jornalista por um bom trabalho, tudo isso mostra a idolatria que a Turquia ainda tem por Alex. Nesta entrevista de Ximenes, ele conta como o povo de lá ainda se liga no jogador.

- Desde o momento em que o Coritiba anunciou o Alex, 20% dos acessos na nossa homepage são da Turquia. É uma coisa inacreditável. A idolatria que os turcos têm por ele é uma coisa fantástica - disse o dirigente, que tenta entender o que aconteceu com o jornalista:

- O Alex deixou Istambul em um voo fretado e ninguém sabia onde ele jogaria. A imprensa turca especulou muito que ele jogaria no Cruzeiro, pois ele saiu do Cruzeiro para ir para a Turquia. Um jornalista, sempre querendo dar furo, veio atrás dele.

Já o próprio jogador, que deu a entrevista com bom humor, também vê a história de forma divertida, mas também reflete sobre o amor que o país tem pelo futebol.

- O jornal dele não deve ter Google, né? Como o cara coloca Cruzeiro de Belo Horizonte e vai parar no Acre? É algo absurdo (risos). Achei toda essa história muito louca e que só mostra a paixão e o fanatismo que o povo turco tem pelo futebol.

Com a palavra
Süleyman Arat
Repórter do jornal ‘Hürriyet Daily News’ (TUR)

Alex é um jogador adorado na Turquia, mesmo entre torcedores dos rivais, como Besiktas e Galatasaray. Sua nova vida interessa aos leitores turcos. Eu gostaria de ser o primeiro a entrevistá-lo. Mas não tínhamos muita informação. Minha única chance era estar no Brasil um dia antes dele, seguí-lo, e convencê-lo a falar.

Eu tinha pouco tempo para descobrir seu voo, e foi aí que eu tive o problema no aeroporto.

Eu estava tão cansado quando aterrissei, era um bonito e pequeno aeroporto. A primeira coisa que eu fiz foi perguntar a um funcionário “Quando o avião de Alex vai pousar?”. Ele disse que não conhecia nenhum Alex e que nenhum outro avião pousaria naquele dia. Fiquei chocado.

Foi quando conheci o meu amigo flamenguista, que tinha um inglês muito pobre, mas era muito gentil. Descobrimos a real situação. Eu liguei para o diretor do jornal e expliquei tudo, ele disse que não havia razão para eu ficar desapontado. Isso só me deu ambição e eu tinha que conseguir, não importava o que acontecesse.

O flamenguista me levou para a casa de um amigo, e procuramos uma solução. Havia um voo de Rio Branco para Brasília, no dia seguinte, às 14h45. Eu queria um táxi para Rio Branco, mas o taxista cobrou US$ 400 (R$ 829) para sete horas de viagem, e era exatamente o que eu tinha na carteira.

E surgiu o Airton, que ia para lá às 9h, mas eu perderia o voo. Convenci, então, pela saída às 5h, e ele me levou na casa de seu amigo peruano, Paulo Banir. Fizemos um churrasco, no dia seguinte me ajudou até com a passagem.

Quando, enfim, cheguei em Curitiba, novo problema, e novo amigo: Robson William. Eu só tinha dólares, e o banco estava fechado. Ele me deu R$ 10, e disse que eu deveria pagar só quando voltasse ao Brasil. Fui para a cidade, e consegui me acomodar para nova aventura: encontrar o Alex.

Estou trabalhando em um livro baseado em minha vida profissional. A aventura brasileira será a lembrança mais colorida.