Este artigo é o discurso do Ex-Ministro da Cultura e do Turismo da Turquia, atual Deputado Ertugrul Günay, no seminário organizado pelo CCBT no Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) em 17/09. 

"É um momento muito especial para mim estar aqui no Brasil, um país bonito e grande na América do Sul, e estar com vocês neste importante instituto. É uma honra, para mim e para todos aqui, estar com Excelentíssimo Presidente Fernando Henrique Cardoso. 

Presidente Cardoso esteve na Turquia há alguns meses. Espero que ele fale sobre suas impressões desta viagem. Esta é minha terceira visita ao Brasil. Mas, eu não vou comentar sobre minhas impressões deste lindo país, Brasil, que vem crescendo rapidamente. Eu vou falar resumidamente sobre a história e os dias atuais da Turquia.

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A Turquia é um país entre dois principais continentes, Asia e Europa,  em uma das regiões mais antigas de habitação na história da humanidade. A grande parte de seu território fica no continente asiático, que chamamos de Asia menor ou Anatólia, e outra parte no continente europeu. 

Eu disse que a Turquia fica “numa das regiões mais antigas de habitação humana no mundo”. Esta descrição é um fato baseado nas provas arqueológicas. A história descoberta na cidade antiga de Çatalhöyük vai até os anos 9.000 a.C. Esta cidade entrou na lista de Patrimônio Mundial da Unesco em 2012. Outro exemplo; as Ruínas de Göbeklitepe, que é aceito um dos centros religiosos mais antigos? pelos arqueólogos, pertence aos tempos 12 mil anos atrás, ou seja, 10 mil a.C.

O território da Turquia, por ser localizado na rota de imigrações importantes e obrigatórias no mundo antigo, foi berço de muitas civilizações e impérios; vivenciou guerras, invasões e sofrimentos. Alexandre, o Grande, passou pelo território da Turquia quando foi da Macedonia para a India; Imperio Romano, depois de mudar sua capital de Roma para Constantinopla (atual Istambul), passou a maior parte de sua existência (dos anos 400 a 1400) no território da Turquia.

Por esse motivo, esse território chamado de Turquia hoje, já foi chamado de Diyar-i Rum, “Região de Roma”. E esse nome foi utilizado inclusive pelos turcos que vieram da Ásia central a essa região. O território da Turquia, além de abrigar guerras, diferentes estados, grandes imperadores durante sua história, também foi terra de diversas religiões. Os santos de Cristianismo Primitivo nasceram e/ou viveram no território da Turquia; São Paulo (em Tarsus), São Jorge (na Capadócia), São Nicolaus (em Demre).

Os lugares mais importantes de visitação no Cristianismo ficam na Turquia: as setes igrejas citadas na Bíblia Sagrada e um dos mais antigos templos da história, Santa Sofia (que também está na lista de Patrimônio Mundial da Unesco). A Virgem Maria, mãe de Jesus, viveu um tempo e faleceu no morro Bülbül, perto da Antiga Cidade de Éfeso em Izmir; esse lugar é visitado por milhões de pessoas todos os anos. Todas essas marcas de religiões e civilizações, formam a riqueza e a independência do território da Turquia atual na história e cultura do mundo. Hoje, consideramos uma honra e temos orgulho de ser anfitriões dessas riquezas incomparáveis, em nome de toda a humanidade. 

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Os turcos muçulmanos vieram da Ásia Central e começaram a ocupar as costas de Mar Mediterrâneo. A hegemonia deles no território atual da Turquia dura aproximadamente 1000 anos. O país e a civilização mais importante deste período foi o Império Otomano; que ocupou as terras da Roma Antiga e em alguns aspectos considerado continuação dela, de 1300 a 1900. Durante 600 anos, os turcos otomanos ocuparam muitos territórios e, como os romanos, deixaram inúmeros obras públicas nestas terras. 

O crescimento das ideologias nacionalistas e a industrialização na Europa, fez o Otomano cosmopolita, perder seu poder a partir dos anos 1700, e depois da Primeira Guerra Mundial, em 1918, ser dividido. Depois dessa divisão, durante três anos, os turcos fizeram guerra da independência para retomar partes de sua pátria, e após essa guerra o Império Otomano foi abolido e a República da Turquia foi fundada, em 1923, por Mustafa Kemal (Atatürk), um soldado e comandante bem-sucedido. 

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A Turquia viveu um período modernista e elitista, sob domínio de um único partido, de 1923 até 1950. Após Guerra Mundial II, com influencia dos ventos de democracia vindos da Europa, o sistema de um partido acabou e começou o período multipartidário. Que pena que, o começo do período multipartidário na Turquia coincidiu com a tensão causada pelo Guerra Fria.

A Turquia era vizinho da União Soviética (Império Comunista) e ao mesmo tempo membro da OTAN, o poder de defesa do mundo capitalista. Neste ambiente tenso da Guerra Fria, os militares na Turquia, justificando-se com ameaça virtual de Comunismo, fizeram golpe três vezes, tirando os governos legitimamente eleitos, em 1960, 1971 e 1980. Nos golpes de 60 e 80 fecharam o Parlamento e castigaram os políticos. Mas, nas realidade, a Turquia nunca teve uma ameaça real de Comunismo; inclusive nem os partidos socialistas e partidos de esquerda criaram algum perigo no sistema capitalista na Turquia.

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A Turquia, hoje, ainda é governada com a Constituição de 1982, preparada durante regime militar. Muitas partes dessa Constituição já mudaram no decorrer de tempo; em algumas áreas foram feitas reformas para adaptá-la ao direito da União Europeia. Porque, a Turquia tem uma relação boa com União Europeia desde 1960 e é membro associado/parcial desde 2004. Mas, podemos dizer que, ultimamente, o Governo Turco não vem mostrando interesse e determinação para concluir o processo de adesão à União Europeia. 

Nos últimos 25 anos, os partidos políticos da Turquia, ainda não conseguiram fazer uma constituição totalmente democrático, tanto pelo seu conteúdo quanto pela sua administração. Por cima disso, muitas leis e instituições estabelecidas durante regime militar continuam valendo e funcionando. Ainda hoje, a promessa de uma nova constituição é assunto no cenário político do país. Mas, o conjectura política mostra que essa promessa será mais difícil de ser realizada em breve futuro. 

Porque; através de uma emenda constitucional em 2007, a eleição do presidente começou a ser feita pelo povo. Antes o presidente era eleito pelo Parlamento. Nas eleições do mês passado (agosto de 2014), o então primeiro-ministro e líder do partido que teve maioria dos votos, foi eleito presidente (Erdogan). O sistema governamental na Turquia é parlamentar, mas esse partido (AKP) quer mudar para um "tipo turco de presidencialismo”. Mas, como todos sabem, para o sistema presidencialismo funcionar bem, deve existir mecanismos de controle e de equilíbrio sobre poder do presidente. Esse sistema, por causa das tradições centralizadores da Turquia e pela falta dos mecanismos de controle, mostra perigo de se tornar um sistema autocrático do estilo asiático. Por isso, o Governo Turco recebe grande criticas da oposição e da sociedade, embora ultimamente sua liberdade muito limitada. 

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Até aqui, fiz um resumo sobre história da Turquia e o ponto que o país chegou hoje. Agora quero comentar sobre minhas opiniões sobre futuro do país. 

A Turquia é uma das economias em crescimento no mundo. Tão perto da Ásia e da Europa, o país possui um potencial muito grande de crescer em diferentes áreas de economia, principalmente no turismo. Conforme os números do ano passado (2013), vieram mais de 30 milhões de turistas à Turquia de diversos países do mundo, e só do turismo o país ganhou mais de 30 bilhões de dólares. Hoje a Turquia é o sexto país mais visitado do mundo. 

Nos últimos anos, o volume do investimento estrangeiro também aumentou. A economia turca está crescendo, hoje é décima sexta (16a) maior economia do mundo. A Turquia tradicionalmente não é um país de turismo. Porém, além de riquezas históricas e arqueológicas, recebe importantes organizações culturais. Nos últimos anos em muitas cidades, principalmente em Istambul, realizaram-se diversas atividades artísticas, exposições tradicionais e contemporâneas, mostras de cinema nacional e internacional, festivais de teatro, música, design e bienais. 

Gostaria de lembrar com muita alegria que, em 2008 o escritor turco Orhan Pamuk ganhou Prêmio Nobel de Literatura. Recentemente, os diretores de cinema Fatih Akin, Semih Kaplanoglu, Nuri Bilge Ceylan conseguiram trazer a nosso país os importantes prêmios internacionais em Berlin e Kan.

A Turquia está disposta, através do Ministério de Turismo e Cultura, com importantes equipamentos turcos, como Fundação de Istanbul Pela Arte e Cultura, Museu Istanbul Modern, Museu Pera, Ankara Cern Modern, Museu da Inocência, Museu de Sabanci e Koç, para realizar parcerias com as instituições brasileiras e com Centro Cultural Brasil-Turquia que vem construindo pontes entre os dois países com trabalhos bem-sucedidos.  

Para esse crescimento continuar, a Turquia deve se importar com duas coisas: a primeira, com todas as leis e instituições, se tornar um “estado de direito, baseado nos direitos humanos e nas leis de direitos universais” e ter a democracia pluralista.  Porque, sem um estado de direito e sem democracia, será impossível tornar o crescimento e desenvolvimento contínuos. Um entendimento de desenvolvimento sem considerar os direitos humanos, não será um desenvolvimento real; isso apenas seria crescimento  de desigualdade e da falta de justiça. 

A segunda é torcer e trabalhar sinceramente pela paz no país, na região e no mundo. Pois, no mundo com população em constante crescimento e com recursos poluídos e extintos, tudo que for consumido para fazer guerras, é roubo do futuro da humanidade. 

Por isso, a Turquia tem um só caminho na sua frente: reforçar a democracia no caminho à União Europeia, não deixar de ser um estado de direito e proteger a paz no país e fora do país. Como dizia o grande estadista, fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk: “Paz na pátria, Paz no mundo!"

Agradeço pela participação.

Atenciosamente."