CCBT organizou Conferência Internacional Sobre Terrorismo
Nos dias 08 e 09 de março de 2016, Centro Cultural Brasil-Turquia organizou no Teatro Cásper Líbero a “Conferência Internacional – Religiões, Intelectuais e Mídia: Posições diante do Terrorismo”, em parceria com diversas instituições. A conferência contou com participantes brasileiros e estrangeiros e promoveu debate sobre as causas e consequências do terrorismo ao redor do mundo, a partir de três grandes áreas: Mídia, Intelectuais e Religiões. O interesse do público foi tão grande que para 420 assentos disponíveis, houve um número recorde de inscrições, mais de 900!
O reitor da Faculdade Casper Libero, Prof. Carlos Costa, deu boas-vindas aos conferencistas e os participantes, na manhã do dia 08 de março. O discurso dele foi marcado com um ato de um minuto de silêncio pela lembrança de todas as vítimas do terror e da intolerância. Prof. Bernardo Sorj fez abertura da conferência em nome do Conselho Acadêmico da Conferência, formado por renomados brasileiros: Prof. Dr. Fernando Altemeyer, da PUC-SP, Prof. Dr. Peter Demant, da USP, Prof. Dr. Murilo Meihy da UFRJ, Prof. Dr. Bernardo Sorj do Instituto Edelstein-RJ, Prof. Dr. Roberto Chiachiri da FCL. Prof. Sorj, falou sobre a abertura do Centro Cultural Brasil-Turquia ao diálogo e sobre sua expectativa em relação à conferência: “Que ela gere um momento de reflexão no público, pois, queiramos ou não, gostemos ou não, o terrorismo é um problema que nos atinge” e parabenizou o CCBT por organizar um evento de tanta relevância. O Keynote Speaker da conferência foi o intelectual brasileiro Mario Sergio Cortella, docente da PUC-SP e especialista educacional. Ele reforçou o tamanho da insensibilidade apresentada pelos grupos terroristas que matam seus semelhantes, resumindo na máxima “O homem feri a si mesmo”, e a falta de empatia presente nos dias atuais, uma vez que não enxerga no outro a figura de um “irmão”, mesmo com a existência de diferenças. “Difícil é amar o próximo; é mais fácil amar quem está longe.” afirmou. Para Cortella, o diálogo e o ensino são o caminho para se trilhar um futuro sem medo e com tolerância. Finalizando sua participação, profanou que “a morte serve para lembrar a vida”, em alusão ao pouco valor conferido a vítimas mortas por ações terroristas. MESA DE MÍDIA A Mesa de Mídia, a primeira a ser apresentada no dia 08 de março, contou com a presença do Jornalista Lourival Sant’Anna, com ampla experiência em cobertura de conflitos, e da Professora de História da Ásia da UNIFESP, Samira Adel Osman. Infelizmente, a Colunista do Jornal Turco Today’s Zaman, Sevgi Akarçesme, não pôde estar presente devido a onda de repressão à liberdade de impressa no país. No dia 04 de março de 2016, Autoridades da Turquia tomaram o controle do jornal Zaman, impossibilitando a presença da jornalista. A jornalista Sevgi Akarçesme enviou um vídeo e um pronunciamento, que foi lido durante o evento. Em ambos, enfatiza que “as ditaduras utilizam o terrorismo como uma forma de silenciar as críticas”. Sofrendo na pele, ela contou como o governo turco alega, sem provas, que seu jornal foi acusado de “difundir propagandas terroristas”. Ela foi obrigada a abandoná-lo e deixar o país. Lourival Sant’Anna explanou ao público de que forma o Terrorismo é tratado pelo jornalismo atual, enfatizando as diferenças dos veículos de cada país. “A BBC é mais ligada à sensibilidade, não utiliza a palavra ‘terrorista’. No Brasil, chamamos as coisas do que elas são, sem eufemismos”, afirmou. Em seguida, Samira focou-se na vertente Islã e apresentou imagens e fragmentos textuais midiáticos, que mencionassem a cultura muçulmana no Brasil e sua influência na criação de um estereotipo e preconceitos contra os que a praticam essa. Samira Adel Osman explicou, também, que o terrorismo tem uma outra expressão na América Latina – A violência urbana. São situações distintas, mas que podem ser aproximadas por tratar-se de explosões de violência exacerbada. ‘’Qual a nossa reação?‘’, questionou. Normalmente, a reação parte para o lado emocional, e por isso é fácil de manipular. Com isso, explicou o sucesso do terrorismo nos lugares de conflito, já que a manipulação é mais fácil na lógica do grupo. MESA DE INTELECTUAIS A Mesa de Intelectuais também aconteceu no dia 08 de março, no período da tarde. Composta pelos professores Peter Demant, Jorge Lasmar, Eric Brown e Kerim Balci, todos com amplo conhecimento, a mesa abordou temas interessantíssimos e provocou questionamentos intrigantes no público. A mesa de mídia foi mediada pelo Prof. Roberto Chiachiri, vice-diretor da Casper Libero. Para o historiador Peter Demant, o Estado Islâmico é a organização terrorista mais bem-sucedida da história, porque alia estratégia à propaganda por meio do terror. Os jihadistas, disse ele, são, na sua maioria, jovens da segunda geração de emigrantes do Oriente Médio com destino à Europa. Ele apontou como fator principal arregimentador a política americana para o Oriente Médio e suas consequências. São jovens excluídos da sociedade, sem opções. Demant enumerou outros fatores que contribuíram para o crescimento do grupo, como a crise econômica em países europeus e a tolerância de governos de esquerda com o radicalismo. Qualquer solução para conter o grupo, avaliou, passa pela contenção do “arrebanhamento” de jovens. Estes, afirmou, buscam um ‘pertencimento’ que não encontram nas sociedades europeias. Peter Demant afirmou que há diferença entre o Islã, um conceito político, e o islamismo, religião. “É importante destacar que islamizar a radicalização é a negação da religião”. Seguindo a linha de pensamento de Demant, Jorge Lasmar observou que terrorismo e islamismo não se misturam, ou seja, que não há nada na religião que permita ou incentive assassinatos e ataques. “Terrorismo não é um fenômeno do islamismo. Grupos usam a religião como pretexto para agir livremente em alguns países. O fato é que 67% dos atentados terroristas no mundo ocidental são de natureza não religiosa”, acrescentou. Uma das frases que mais chamou a atenção foi a do professor Jorge Lasmar (PUC- Minas), ao dizer que “Terrorismo não é um fenômeno do Islamismo”. A discussão teve como objetivo fazer com que o público compreendesse e discutisse as razões da existência do terrorismo e do pré-conceito estabelecido sobre o mesmo. Outros pontos interessantes abordados na palestra foram: os motivos que atraem os jovens para adentrar a facção Islã; a romantização do Islamismo; Islamofobia e xenofobia; ensino e diálogo como forma de acabar com os preconceitos; liberdade religiosa e o papel do governo diante de toda a situação atual dos países que sofrem com o EI (Estado Islâmico). Além disso, eles também criticaram a forma como a divulgação do assunto é feita, haja vista que ela não apresenta de forma totalmente correta todos os aspectos dos conflitos, levando com que muita coisa que é cultural do povo árabe seja atribuída à religião muçulmana. Eric Brown, do Hudson Institute, focou a questão da educação e do diálogo e como ambos são indispensáveis para combater o terrorismo. Depois, comentou os ideais republicanos para a obtenção de paz: leis, participação e liberdade religiosa. Kerim Balci, editor-chefe da revista Turkish Review, destacou que as opiniões de líderes são importantes para detectar movimentos de massa e vê na educação a ferramenta fundamental para mudar mentes. Também comentou sobre a importância dos formadores de opinião, que ensinam coisas novas e fazem com que o público acredite em algo que está em descrédito, como, por exemplo, a paz. “É preciso universalizar o discurso, para que atinja todos e não só um grupo específico. Como jornalista, posso dizer que é muito difícil mudar opiniões depois que elas se cristalizam. Por isso, devemos recusar a retórica e investir mais na educação de jovens”. Ele questionou o papel do jornalista na atualidade, alegando que há uma certa simbiose entre jornalismo e terrorismo, e que caberia à mídia focar mais as ações dos formadores de opinião e menos o sangue derramado pelo terrorismo. Uma pergunta sobre a forma como o sistema educacional americano trata o terrorismo foi levantada durante o debate. Eric Brown respondeu “O terrorismo é um problema novo. Por conta disso, os americanos ainda não sabem como abordá-lo.” MESA DE RELIGIÕES A Mesa sobre Religiões, no dia 09 de março, contou com a presença de cinco expoentes do mundo religioso: Reverendo Dirk Ficca, Dom Julio Endi Akamine, Rabino Michel Schlesinger, Sheikh Samir Boudinar e Teologo Suleyman Eric e o mediador, Fernando Altemeyer Jr., docente da PUC-SP. O representante católico, bispo auxiliar de São Paulo, Dom Julio, destacou a importância de sempre buscar o bem, independentemente das condições, e que, por meio de pequenas ações, muitas pessoas podem mudar todo o cenário global. Além disso, ele condenou a prática usuária e mercantil que é feita a partir desse tema. Já o representante judeu, Rabino Michel Schlesinger, seguiu uma linha parecida, afirmando a importância de se fazer o bem ao próximo, como escape de tamanha crueldade. Para Schlesinger, "a Torá apresenta diversas relações conflituosas entre irmãos para nos conscientizar que o desafio da convivência é complexo”. Reverendo Dirk Ficca, da igreja presbiteriana de Chicago, disse que a religião pode incitar e inspirar seus adeptos, a respeitar os outros, sem esperar por isso algo em troca e para não responder a violência pela violência.
Os representantes muçulmanos, Sheik Samir Boudinar e Teólogo Suleyman Eris criticaram o mau uso da religião realizada pelos terroristas, que distorcem conceitos e preceitos da religião islâmica, na busca por criarem grandes impérios teocráticos ao redor do mundo, por exemplo. O melhor exemplo disso é o uso que estes fazem da ideia do Jihad, que nada mais é do que a luta interna de todo muçulmano na busca por um mundo mais justo, como pretexto e justificativa para os ataques terroristas realizados atualmente. Fethullah Gülen, inspirador do Movimento Hizmet, enviou uma carta à conferência, que foi lida pelo presidente do CCBT, Mustafa Göktepe. Leia carta ineira aqui. Dessa forma, os ambientes de discussão e diálogo são essenciais para a discussão e o entendimento de um assunto tão delicado e passível de diversas dúvidas, como o terrorismo. Em algumas horas, não iremos encontrar uma solução palpável para tal patologia, mas compreendemos que a tolerância e a compreensão da situação do próximo são uma das entradas desse labirinto chamado vida. A conferência foi encerrada com discurso do Mustafa Göktepe, presidente do CCBT, organizador do evento. Ele agradeceu à equipe do CCBT pelo esforço na organização da conferência, aos dirigentes e equipe da Casper Libero, aos conferencistas e participante, a acrescentou: “Estamos com sensação de dever cumprido. É um orgulho ao CCBT realizar essa conferência de um tema de extrema importância e contribuir para um mundo melhor, mais pacífico e unido”. FONTES DAS INFORMAÇÕES Notícia sobra conferência na TV Gazeta: A mensagem que Sevgi Akarçesme enviou para a conferência: Assista ao vídeo completo da conferência: MESA DE MÍDIA MESA DE RELIGIÕES FOTOS: |