CCBT organizou palestra internacional na UFF e na ABI no Rio de Janeiro
  01.07.2015
CCBT organizou palestra internacional na UFF e na ABI no Rio de Janeiro

Centro Cultural Brasil-Turquia organizou palestra internacional, na Universidade Federal Fluminense (UFF) e na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), ambos no Rio de Janeiro, no dia 26 de maio de 2015. O tema foi “Países emergentes e seus desafios para estabelecer a cultura da democracia: exemplo da Turquia”.

Os palestrantes foram Mustafa Goktepe, presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) e Ihsan Yilmaz, presidente do Instituto Istambul, um think tank com base na Turquia, professor de Sociologia Política e diretor do Programa de PhD em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Fatih, colunista dos jornais diários Today’s Zaman e Meydan, conversou sobre situação crítica da democracia e liberdade de imprensa na Turquia.

Selcuk Gultasli, representante do grupo do jornal Zaman em Bruxelas, iria participar do evento, mas não pôde devido à grande pressão do Governo Turco sobre jornal que ele representa em Bruxelas. A carta que ele enviou ao seminário foi lida pelo Mustafa Goktepe, presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia. A carta está no final dessa página.

O autor de diversos livros, o sociólogo Ihsan Yilmaz, disse que a mudança de poder virou de linha, da tutela militar à autoridade administrativa civil nos últimos anos na Turquia. Como prova a isso, o Yilmaz apontou que, os bancos privados foram desapossados, as pessoas foram agrupadas e a sociedade polarizada, os comerciantes que não apoiam o Governo turco foram multados e as organizações humanitárias foram tradatas como organizações terroristas. Ele expressou resumidamente o último ponto que a mídia livre chegou com as seguintes frases: “O presidente da emissora de televisão, Samanyolu, onde eu apresento um programa, Hidayet Karaca, está preso há meses por causa de algumas frases num seriado que foi transmitido num dos canais da emissora há 5 anos; e o editor do jornal Zaman, Ekrem Dumanli, para qual eu escrevo colunas, está sendo julgando como suspeito de chefe de organização terrorista! Eu também estou sendo julgado por ter feito discussões críticas sobre o Governo turco.”


A CARTA DO JORNALISTA SELÇUK GULTASTLI AO SEMINÁRIO

Essa carta enviada pelo Selçuk Gültasli, representante do Jornal Zaman em Bruxelas, para o seminário, em 28 de maio de 2015. Ele iria participar do seminário pessoalmente, mas não pôde vir por razões que explica na carta. 

Prezados presentes,

Em primeiro lugar, gostaria de apresentar minhas desculpas por não poder estar entre vocês hoje, apesar da minha vontade e promessa. Eu tenho certeza de que vocês vão entender a razão da minha ausência, com essa mensagem onde eu tento explicar a situação na Turquia para os jornalistas.

Algumas semanas atrás, meu chefe, Ekrem Dumanlı, CEO do Jornal Zaman, me convidou para Istambul, para trocar ideias. Como ele está sendo julgado por liderar "uma organização terrorista armada(!)", o juiz proibiu-o de viajar para o exterior. Em Istambul, foi-me dito que o governo poderia tomar controle do ZAMAN, o jornal que eu represento em Bruxelas, e de outros meios de comunicação, críticos na corrida para as eleições no 7 de junho deste ano.

Essa possibilidade me parecia uma loucura e me opôs a essa ideia tão insana. E também pensei que o motivo do convite para Istambul não era plausível.

No dia seguinte eu voltei para Bruxelas. Para minha surpresa e choque, eu li na mídia pró-governo que um procurador em Ankara, chamado Serdar Coskun, já havia solicitado ao Ministro de Comunicações para parar todos os serviços do Estado à mídia crítica ao Governo, praticamente pedindo para amordaçar a mídia livre. Até agora, nem o procurador nem qualquer membro do poder judicial negou relatos de que o governo quer que os meios de comunicação críticos sejam amordaçados.

Nas últimas semanas, o presidente Erdogan também entrou numa briga contra um outro grupo de notícias independente, o Grupo Dogan. Ele acusa grupo Dogan com todos os tipos de más intenções. Um advogado já pediu o Ministério Público para prender o Editor-in-Chief do Hurriyet, jornal diário do Grupo Dogan.

Dois dias atrás, o jornal New York Times publicou um aviso editorial aos governos democráticos do Ocidente para serem vigilantes contra os esforços do Governo turco para silenciar os grupos de mídia Dogan e Zaman, as duas únicas remanescentes vozes independentes na Turquia. Presidente Erdogan não perdeu tempo para começar uma luta contra o jornal New York Times, pedindo-lhes para se comportarem e calarem!

Meu outro chefe, Hidayet Karaca, presidente do grupo de emissoras de Samanyolu TV, foi preso em 14 de dezembro de 2014, e ele ainda está na prisão, por "liderar uma organização terrorista armada(!)". Ele é acusado de instruir a polícia turca para fazer operações através de uma novela transmitida há alguns anos em um dos canais do grupo que ele gerencia! Isto pode soar super-surreal para vocês, mas é um caso real da Turquia.

Repórteres Sem Fronteiras classificou a Turquia 149a (centésima, quadragésima e nona) colocada entre 180 países, em termos de liberdade de imprensa.

Freedom House classificou imprensa turca como "não livre", pelo segundo ano consecutivo.

Hoje, na Turquia, quase 70 por cento da mídia é controlada pelo governo. Quando Erdogan fala, mais de 15 canais transmitem seu discurso ao vivo.

Este é o estado dos meios de comunicação na Turquia. A razão de que não estar aí entre vocês hoje, é a possibilidade de que o meu jornal poderá ser tomado pelo Governo. Eu precisava estar perto de Istambul, se uma coisa tão terrível acontecer. Por favor, aceitem minhas sinceras desculpas.

Muito obrigado pela compreensão.”

Selçuk Gültasli, Representante do Jornal Zaman


Fotos das duas palestras: