Cônsul da Turquia deu palestra no CCBT
  11.12.2014
Cônsul da Turquia deu palestra no CCBT

O Cônsul Geral da Turquia em São Paulo, Mustafa Kapucu, deu uma palestra no CCBT-Centro Cultural Brasil-Turquia aos alunos da USP, de Pós-Graduação do Prof. Dr. Peter Demant.

Na palestra, além dos alunos, o Prof. Dr. Peter Demant, jornalista turco, representante do Grupo do Jornal Zaman Dr. H. Bayram Öztürk, diretor do CCBT Mustafa Göktepe e Editor da Revista Sabedoria Fatih U. Özorpak estiveram presentes.

Primeiro o Cônsul fez uma breve apresentação da política externa da Turquia e sua relação com o mundo e o Brasil. Durante a aula, tanto Prof. Demant, quantos os alunos, fizeram perguntas ao Cônsul e ele repondeu.

Aqui vai um resumo dos assuntos abordados e as respostas, feito por monitora Daniella K. Abramovay.

Visita ao Centro-Cultural Brasil-Turquia

No sábado, dia 21 de abril, visitamos o CCBT, CENTRO CULTURAL BRASIL-TURQUIA, que fica localizado nos Jardins. Fomos muito bem recebidos, com direito à chá turco e biscoitos típicos. O diretor Mustafá Goktepe que nos recebeu, e todos que estavam presentes foram muito hospitaleiros, tanto que estamos em via de reservar uma próxima visita. O centro, recém-estabelecido, proporciona aulas de língua turca, além de ser responsável por um curso de cultura turca reconhecido pela PUC e pela USP. Na nossa reunião, tivemos uma exposição sobre política externa turca – e sua relação com a política externa brasileira - feita por Mustafa Kapucu, cônsul da República Turca. Aqui, coloco alguns temas levantados pelo cônsul (as quais refletem as posições oficiais da Turquia) e questões colocadas a ele posteriormente. A reunião contou também com a presença de Hamdullah Ozturk, representante do Brasil no diário Zaman.

A política externa da Turquia e do Brasil tem muitos pontos semelhantes, por exemplo, a tendência a não interferir nos assuntos domésticos dos outros países e de priorizar sempre o diálogo, antes de ser tomada qualquer outra decisão. No entanto, as políticas apesar de serem semelhantes possuem motivos diferentes. Tanto a Turquia como o Brasil são países importantes, e querem assumir cada vez mais o seu papel fundamental na sociedade internacional. Antes, ambos países tinham uma influência regional, mas agora têm uma influência mundial.

A aproximação entre Brasil e Turquia aumenta consideravelmente, principalmente, no âmbito do comércio exterior; houve uma triplicação no volume comercial importado e exportado dos dois países desde 2007. Além disso, há uma tentativa de os dois países buscarem a parceria alheia também no que concerne à política mundial, um alinhamento nos discursos exteriores. Porém, no caso da Síria, a Turquia atua de forma mais ativa, já que, pela proximidade, é inevitável que os acontecimentos da Síria afetem a Turquia; há mais de trinta mil refugiados provenientes da Síria morando na Turquia, além das semelhanças entre alguns grupos étnicos sírios e turcos.

A Turquia é um país que se situa em diversos planos: no Oriente Médio, na Ásia, na Europa e nos Balcãs. Além disso, é um país de maioria muçulmana, porém laico, com presença de distintos grupos religiosos. Devido a sua situação peculiar, a Turquia tinha um tipo de política externa, focada em políticas de segurança, devido à presença de distintos conflitos – Irã, Iraque, Síria, Rússia, Armênia-; no entanto, a Turquia vem mudando a sua política externa: a Turquia passou a ver a situação no Oriente Médio não como crises mas como oportunidades para transformar a região.

É a “política de problema zero” do ministro do exterior Davutoglu, essa política em si é um ideal, é um modelo de atuação, no entanto, cabe lembrar que nem sempre é possível manter uma agenda positiva,. Um exemplo dessa política seria a relação da Turquia com o Irã, que apesar de notáveis diferenças de ideologia, conseguem se relacionar; privilegiando as relações econômicas e a não-ingerência nos assuntos internos dos outro países. A Turquia aprendeu que como não se pode escolher os seus vizinhos, há que saber lidar e conviver com eles.

Antes, mais da metade do comércio turco era feito com a Europa, porém, nos últimos tempos, a Turquia está privilegiando mais os seus vizinhos. Afinal, depois que a Turquia aceitou as suas diferenças com os seus vizinhos, ela passou a ter uma melhor relação com eles, no sentido de que quanto maior a relação cultural entre dois países, menor a chance de ter problemas políticos. A política externa turca pretende consolidar o regime de direitos humanos e democracia para os seus vizinhos. A própria Turquia está elaborando mudanças constitucionais – sua Constituição data de 1980 - para consolidar sua democracia e tornar-se um exemplo para a região. Ao mesmo tempo, a Turquia adotou uma posição favorável a mudanças na Primavera Árabe, defendendo os interesses do povo e negociando com os líderes o fim do derramamento de sangue.

A Turquia mantém boas relações com as entidades internacionais; e tem interesse no BRICS. Além disso, a Turquia consegue manter relações positivas tanto com os Estados Unidos como com o Irã. Isso decorre da aceitação e reconhecimento que a Turquia tem de si mesma. A Turquia também mantém relações saudáveis com a Europa.

Perguntas e Respostas para o Cônsul

Prof. Peter Demant: No caso da Síria, há a possibilidade de a Turquia atuar de forma mais ativa, militar, na região?

Resposta do Cônsul, Mustafa Kapucu: A intervenção militar, para a Turquia, é a última solução a ser pensada. Além disso, a Turquia não entraria em uma guerra sozinha contra a Síria. Dado a recorrência de invasões sírias em território turco, a Turquia vai recorrer ao direito internacional e à negociação –apoio à iniciativa de Kofi Annan- para solucionar esses conflitos.

Peter: No vídeo e na sua exposição, a Turquia é apresentada como um país multirracial e multicultural, no entanto, como fica essa definição quando olhamos para a época de Atatürk com sua visão de uma única nação turca?

Resposta: Com o final da Primeira Guerra Mundial, a Turquia deixou de ser o Império Turco-Otomano e passou a ser um país de uma nação apenas. Nesse período, a Turquia tinha preocupações com o imperialismo dos outros países, de forma que o exército era a instituição mais fortalecida. O povo apoiava o exército e, como consequência, a Turquia esteve sob regime militar por muitos anos. Aos poucos, a Turquia começou a ter liberalização do pensamento e expressão; e no momento atual, pode-se dizer que tudo é possível de ser falado na Turquia.

Ernesto: Como a Turquia avalia as intenções nucleares do Irã?

Resposta: Para a Turquia, todo país tem direito a ter políticas pacíficas de desenvolvimento nuclear, disso decorre que a Turquia acredita que todo programa nuclear é pacífico até que seja provado o contrário; lembrando que a Guerra do Iraque foi causada pelo pressuposto da existência de armas nucleares. No entanto, a Turquia é um país que não tem armas nucleares, e dessa forma, não quer que os seus vizinhos –Irã- a tenham.

Daniella: Como estão as relações entre Israel e Turquia depois da questão não resolvida da flotilha?

Resposta: Antigamente, as relações econômicas, políticas e militares eram boas com Israel. Isso começou a mudar há cinco, seis anos, quando o Hamas foi eleito na faixa de Gaza. As relações pioraram recentemente devido ao acidente da flotilha; e a Turquia exigiu um pedido de desculpas de Israel e o pagamento de pensão para as famílias das vítimas. Israel negou, quando o país aceite as demandas turcas, as relações entre os dois países, provavelmente, voltarão a melhorar.

Augusto: Quais são as principais mudanças da política de problema zero?

Resposta: Houve muitas mudanças, porém, cabe lembrar que a política de problema zero é um ideal, um objetivo; afinal a Turquia sempre teve – e ainda tem- problemas com alguns vizinhos, como o Irã, Iraque, Síria e Armênia. Para a Turquia, apesar dos problemas, é preciso seguir uma agenda positiva, não voltada para os problemas.

Cila: Como a população turca avalia o governo AKP?

Resposta: O partido conseguiu metade dos votos na última eleição. A oposição é fraca na Turquia; em geral, são os partidos conservadores que ganham as eleições, pois os partidos de esquerda não têm muita força. Nas eleições, os próprios líderes influenciam muito, e também a situação econômica do país; quando a economia está bem, observa-se uma continuidade dos partidos no poder.

Peter: E sobre a Questão Curda?

Resposta: Quanto aos curdos, não há uma desigualdade jurídica, mas sim social, há uma falta de desenvolvimento nas regiões onde os curdos habitam. Mas, por exemplo, há uma TV estatal que transmite programas em língua curda. Além disso, há sempre que diferenciar os problemas terroristas que a Turquia enfrenta dos problemas do povo curdo.

Peter: O Movimento Gülen é visto, para a Turquia, como desafio ou oportunidade? E por que o fundador encontra-se nos Estados Unidos?

Resposta: O movimento é visto tanto como problema, por alguns, como oportunidade, por muitos. Esse movimento é um movimento tanto social como religioso; e as pessoas que tentaram mudar a imagem do movimento gülenista estão agora sendo julgadas. Pelas leis turcas, o fundador pode voltar à Turquia, mas para não gerar problemas internos, opta-se pela continuação de sua permanência no exterior.

 

Fonte: http://gtorientemedio.blogspot.com.br/2012/05/0-0-1-1276-7279-sciences-po-60-17-8538.html

Fonte: CCBT